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terça-feira, 16 de junho de 2015

Metamorfose.


Veio como uma tempestade que destrói todas as barreiras e lava o solo e a terra feia tirando todas as impurezas que contaminam a beleza do ser. Veio como a chuva mansa que embala o sono e acalma o peito, que aguça os ouvidos para o suave som das gotas que dão vida à terra. Veio como um pôr-do-sol melancólico que encerra o dia, que encerra um ciclo, que encerra um dia que já foi feliz. Veio como o amanhecer, como o raiar do sol, que ilumina a escuridão, que faz renascer a vida e colore o dia com um turbilhão de cores vivas. Veio como um arco-iris, que surge de repente, quando menos se espera, com todas as suas cores, encantando o olhar e fazendo surgir, lá da alma, um sincero sorriso no peito e a sensação de descoberta de que a vida é só um momento, um segundo, um piscar de olhos.
E veio para ficar, para me tirar do eixo, pra me fazer loucuras, para me virar do avesso. Veio para me fazer eterna, se fazer eterna. Pra eternizar. 

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Doce Começo


“Quando penso em vocêêê, fecho os olhos de saudaaade..”

Ele começou o dia com uma pequena dor no coração. A saudade batia forte e latente, e parecia que um buraco tinha sido aberto ali. Tantos anos já haviam passado desde que se casou, que já deveria estar acostumado com o emprego que sua mulher escolheu, mas mesmo assim, toda vez que a via partindo em um avião, sozinha, tinha essa mesma sensação, e a saudade vinha com força arrebatadora. Então voltava pra casa e ligava o som no máximo. Sua trilha sonora o acompanhava desde que a conheceu. Era por vezes triste, melancólica, alegre, bonita. Dependendo do dia, escolhia uma.

Dessa vez escolheu Fagner. A música lhe transmitia toda a saudade que sentia; toda sensação de solidão; e acima de tudo, o fazia lembrar-se de sua mulher, do seu toque, sua voz, seu cheiro. E se entregava a todas as lembranças que surgiam, desde os tempos em que, finalmente, se entregou a ela.
Seus olhos, tão belos. Mal acreditava que a tinha nos braços, deitada em seu peito, com as mãos entrelaçadas nas suas. Sentia seu cheiro, sua respiração. Era tão estranha essa sensação. A de estar completo. Ela levantava a cabeça devagar, e ele via seu rosto, quanta beleza havia nela. Delicadamente beijava seus lábios e sentia todo o gosto de sua boca macia. Era como tocar o céu e voltar. Apertava-a mais. Ela sorria, respirava ofegante. Virava o rosto envergonhada.
Ao final do filme, parecia que todo o mundo havia mudado, estava diferente, mais bonito. Não queria que acabasse, mas acabou.


O final da musica o despertou do devaneio. Sorriu, bobo e feliz, e logo lembrou-se que estava sozinho. Contudo, não se entristeceu, apenas lembrou que sua felicidade dependia de sua amada, e estando ela feliz, também ele estaria feliz. Assim, sabia que sua esposa estava extremamente feliz. Realizava a profissão que escolheu da forma mais apaixonada e sabia que ela, afinal, também sentia saudades. Sentia isso. Sentia que ela estava se sentindo plena e completa, por fazer o que faz, viver com quem vive e finalmente carregar no ventre o filho do seu anjo da guarda. 






terça-feira, 12 de maio de 2015

Bordô.

Quando Ana passou lá em casa notei sua expressão cansada e as olheiras cobertas de pó que insistentemente ela tentou esconder. O olhar estava iluminado por uma sombra prateada que tentava disfarçar o desanimo que seus olhos carregavam. Seu vestido preto marcava sua silhueta graciosamente e não deixava vulgar o quadril bem delineado.

- Você está linda, senhorita. - falou logo que abri a porta.

Sorri como de costume, ainda não acostumada com aquela intimidade repentina que surgiu entre nós desde aquela noite na boate. Ela segurou minha mão enquanto descia as escadas e acompanhou com os olhos cada pisada até o final, quando ergueu os olhos e me encarou.

- Gostei da cor do vestido. - ela disse.

Bordô. Da mesma cor do batom na minha boca. Sorri mordendo os lábios quase sem perceber, mas notei seu sorriso tranquilo quase desmanchar-se ao prender a respiração. Engoliu em seco quase imperceptivelmente e baixou o olhar.

- Não morda os lábios. Vai tirar o batom. - falou com um falso tom de descontração. - Entre no carro, vamos nos atrasar.

- Onde está Clara? - perguntei ao notar que Clara não estava no carro.

- Ela não vai. - respondeu-me rápida para depois acrescentar, como se lamentasse pela falta da amada. - Ela passou o dia com enxaqueca. Prefere descansar. Amanhã o dia será longo.

Sim, pensei, amanhã o dia será longo. Vamos aproveitar a pouca paz que nos resta.

Hoje, me lembrando daquela noite, sinto que perdi algo no momento em que fechei q porta e a deixei sair, depois que voltamos daquele restaurante. Surgem como borrões os risos dos nossos amigos na mesa do bar, já bêbados nos esperando, antes de sentarmos à mesa. Borrões são as conversas distorcidas entre as garrafas e os goles de vinho. Mas não são borrões os momentos em que a peguei me olhando intensamente, ou quando baixava o olhar embaraçada. Também não é um borrão a hora em que, chegando em casa, com o vinho subindo à cabeça, eu a convidei para entrar. Talvez um erro. Hoje, eu a teria deixado ficar. Sentir sua respiração na minha nuca, chegando cada vez mais próxima enquanto procurava uma roupa para trocar. Sentir suas mãos hesitantes na minha cintura. Minha respiração parando por um segundo. Ela queria. Eu queria. Mas era uma fraqueza que ela se deixasse dominar por esse desejo. Vinho. Bordô.
Abriu meu zíper lentamente deixando minhas costas nuas onde seu dedo percorria minha espinha. Encostou os labios no meu ombro e me virei para encara-la. Erro. Tomou-me um beijo lascivo e quente. Suas mãos percorriam meu corpo. Caímos na cama ao lado. Eu desmanchei seu penteado e subi as mãos por suas coxas. Era tanta carne, tanto suspiro, tanta saliva. Clara.
Foi quase como um choque. Clara. A palavra não parava de piscar como um letreiro berrante e psicodélico. Clara. Que merda. Abri os olhos sentindo a língua quente na minha boca e dedos macios apertando minha cintura. Empurrei Ana quase em pânico. Ela entendeu o meu recado assim que viu meu rosto desesperado e quase em prantos. Entrei no banheiro e lá fiquei, cabeça mergulhada na água. Quando saí, ouvi seus passos na escada. Corri ao seu encontro e a encontrei abrindo a porta. Parei nos últimos degraus e ela se virou para mim sorrindo. "Nos vemos depois", ela disse e saiu. Fechei a porta e recostei sobre ela. Não houve um depois.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Capítulo VIII

"Cailel"

"Cale-se!" - urrou o Anjo para a figura que o encarava. - "Não diga meu nome nem em pensamento, ser abominável".
"Não me chame assim. Depois de tudo o que aconteceu, não diga que não sente nada."
Ela sentia, mas preferia não sentir. A dor de repremir esse sentimento era muito maior do que qualquer outra dor que um dia já sentira. Era quase como se arrancassem sua alma do corpo. Aquela alma que ja foi tão pura; incorruptivel, fria. Porque Deus permitira isso? Porque não avisara o que a esperava nesse mundo tão obscuro? Porque ninguém a alertou que não conseguiria voltar mais para o único lar que conhecia e amava? E acima de tudo, porque não a alertaram sobre os sentimentos humanos?
Ela se deixou cair na mais óbvia armadilha e se afundava cada vez mais. Suas asas antes brancas agora refletiam o tom dourado do conhecimento e já enegreciam nas pontas com os reflexos do pecado.
Ela observou o tom azulado do fogo celestial que percorria seu corpo, já fraco e quase completamente apagado de suas asas. Sentiu uma tristeza profunda. Era a última vez que poderia invocar seu poderes celestiais. Os encantamentos em seu corpo já se apagaram quase completamente e sua força diminuia rápidamente. Fechou os olhos e respirou fundo. A criatura a sua frente ainda a encarava, mas ela não queria olhar em seus olhos. Não queria saber o que já sabia, nem confirmar o que suspeitava. Preferia morrer sem nunca saber.
Respirou fundo e sentiu o toque suave das mãos do demônio. Eram sempre sutis e envolventes quando queriam seduzir almas para seu lado. Mas o toque era tão bom que sentiu um arrepio percorrer toda sua espinha e deixa-la de pernas bambas. Tentou afastar essa sensação e concentrar-se.
- Se afaste, demônio.
- Não. Pare de achar que vai se redimir, que vão te perdoar lá em cima. Você não voltará! Aceite que agora seu lar é aqui, e eu posso ficar com você. Vamos ficar bem. Vou te ajudar.
- Não quero sua ajuda! Não sei do que está falando. Você só quer me usar, se aproveitar da minha fraqueza.
- Pare com isso, Anjo. Sabe que não é verdade, por favor, não jogue fora o que vivemos dessa forma.
A voz dele era suave e baixa. Ele se aproximava vagaroso e seu rosto já quase encostava no dela.
- Olhe pra mim - falou em um sussurro - Por favor, você precisa ver que o que digo é sincero. Eu nunca senti isso antes, eu nunca soube o que era isso.
Ela respirava ofegante. Sentia as lágrimas caminhando para seus olhos querendo fugir. Engoliu em seco.
- Eu não quero.
Ele segurou seu queixo delicadamente e pousou os lábios sobre os dela. Foi como se eletricidade passasse pelos dois corpos, unindo-os como um.
O Anjo deixou as lágrimas rolarem pelo rosto, e com as mãos livres puxou o cabo da espada que balançava pendurada em sua cintura. Invocou em pensamento seu poder celestial, e ao abrir as asas com a chama azul brilhando pela última vez, apunhalou com um só golpe o coração de Asbel. O Anjo Caído olhou-a perplexo e caiu.
- Cai..lel.. - disse pela última vez o nome do Anjo e ela pode ver, agora encarando-o que o que ele dizia era verdade.
Mesmo sem querer ela soube e teve a comprovação do que a assustava. Ele a amava. E ela também.
Deixou-se cair ao lado dele, agora com o corpo completamente humano, e pronto para morrer também.



sábado, 8 de março de 2014

Te Quero

Quero você aqui, agora. Ao meu lado. Quero você me dizendo coisas de amor, sussurrando em meu ouvindo o quanto eu sou importante para você e dizendo, ao término de cada frase que eu sou linda e louca, por estar com alguém feito você. Te quero na minha cama, no meu colchão, apoiado em meu travesseiro e respirando pesado, ofegante, e feliz, toda vez que eu passar a mão em sua nuca e te fazer arrepiar. Te quero louco pra ganhar um beijo meu; te quero louco para me ver dançar; te quero louco pra me fazer ninar, pra me fazer cantar, pra me fazer feliz. Quero você louco para que me faça louca também, junto a ti. Nos dois loucos. Eu quero.

Quero te pegar nos braços e te balançar junto a mim. Quero acariciar seus lábios e te fazer sorrir. Quero emaranhar os meus dedos por entre os seus cabelos brilhantes e te fazer cafuné até você dormir um sono de paz. Quero te fazer bem. Quero levantar a cada manha e te ver sonhando ao meu lado. Quero o café da manha na cama e a certeza do que vira depois: nós dois, na água morna que desce pelo chuveiro, entre beijos e abraços, sentindo o prazer de ter alguém na vida. Quero cartas, quero poemas, quero sonhos e desejos. Quero juras de amor eterno, quero a lua cheia na minha janela e você declamando versos na sacada.



Quero uma vida simples, quero pequenas coisas, mas que todas elas sejam ao seu lado. Te quero assim. Do jeitinho que é, e sem tirar nem por. Te quero todinho pra mim, do principio ao fim, sempre ao meu lado.


Porque Te Amo. <3